Muito tempo depois de assistir aos diversos filmes e animações narrando as aventuras de Peter Pan, finalmente tomei vergonha na cara e adquiri a obra original que deu origem a tantas versões diferentes. Não posso dizer que fiquei surpreso com o que vi - o livro faz por merecer seu incrível status de clássico atemporal sem muito esforço.
O livro Peter Pan, escrito por James Matthew Barrie em 1911, é na verdade uma adaptação literária da peça criada pelo próprio Barrie anos antes. Não irei me estender dando detalhes sobre a vida do autor por um simples motivo - o filme Em Busca da Terra do Nunca, dirigido por Marc Forster e estrelado por Johnny Depp, mostra o que motivou Barrie a escrever a peça e quem foram as pessoas que serviram como modelo para suas personagens de modo gostoso e facilmente compreensível. Se você ainda não assistiu ao filme, corra já até as locadoras!
Pois bem, à primeira vista, Peter Pan pode parecer uma fantasia simples escrita para crianças ou pré-adolescentes que ainda gostam de contos de fadas, visto o estilo e idade de seus personagens e a linguagem usado por Barrie. No entanto, para olhos um pouco mais atentos, a obra contém pensamentos e metáforas que fazem com que o livro deixe de ser um simples conto infantil para se tornar uma história mágica capaz de agradar pessoas de qualquer idade.
Como todos já devem saber, tudo começa com os irmãos Wendy, John e Michael Darling, sob os cuidados de sua amável mãe e rígido pai. Wendy, a mais velha e sonhadora entre os três, tem muita curiosidade para conhecer a famosa figura denominada Peter Pan, descrita tantas vezes por sua mãe. Uma bela noite isso acaba acontecendo, justamente enquanto Peter tenta recuperar sua sombra, que havia se separado dele. Wendy presta ajuda ao estranho rapaz e Peter, muito sabido em seus argumentos, convence tanto Wendy quanto John e Michael a irem até a Terra do Nunca, terra mágica onde ele reside.
A viagem é longa e exaustiva, mas quando os Darling chegam à Terra do Nunca, eles logo vêm a beleza do lugar enquanto são recepcionados pelos Meninos Perdidos - uma recepção nada calorosa para Wendy, devo dizer, já que a criaturinha mais encantadoramente maliciosa de todas, a fada Sininho (Tinker Bell), morre de ciúmes da menina. Passados alguns entreveios, Wendy acaba por se tornar a mãe de Peter e dos seis Meninos Perdidos, vivendo aventuras incríveis ao lado deles - algumas narradas e outras, como o próprio Barrie relata em sua obra, apenas brevemente comentadas, pois um livro com todas as aventuras de Peter Pan seria impossível de ser escrito.
Peter Pan é uma gostosa reflexão sobre o amadurecimento, ou pelo menos a aceitação dele. Na terra do faz de conta, Wendy é obrigada a crescer e se tornar uma mãe aos garotos órfãos, o que efetua sua transição de garota a mulher. Peter é mais ousado, recusa-se a crescer e se tornar um adulto pelas consequências chatas que isso trará. Por outro lado, o famoso Capitão Gancho, ou James Hook, mostra-se por vezes um vilão falho e humano que sente falta de agradar crianças ou até mesmo de ser uma figura paterna, tornando-se um espécie de alterego do pai de Wendy - aliás, em qualquer adaptação teatral de Peter Pan, o sr. Darling é sempre interpretado pelo mesmo ator no papel de Capitão Gancho. No plano de fundo, temos ainda o Crocodilo que, tendo engolido um relógio, serve como constante lembrança a Gancho que o tempo passa e está a caçá-lo, o que leva o capitão dos piratas a seus mais fervorosos ataques de nervos.
Recomendo Peter Pan para qualquer pessoa de qualquer idade, mesmo a obra tendo sido tão bem adaptada para o cinema inúmeras vezes - a astúcia e malandragem de Peter ficam mais explícitas no livro, onde a personagem não é nada ingênua e por vezes um tanto maldosa.
Ah, e para os curiosos, meu sobrenome é mesmo Pan e não, não tenho parente algum chamado Peter. Pelo menos não que eu saiba.
Pens Up: 5/5